18 ago Quanto custa uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)?

Esta pergunta recebemos muitas vezes por clientes. Costumamos responder a pergunta com uma outra pergunta: Quanto custa um carro? Não tem uma resposta simples nem para uma pergunta dirigida a um objeto tão claramente definido como um carro. Vocês sabem que isto depende de modelo, cor, acessórios, motor além de vários outros fatores.

Da mesma maneira, são inúmeras as condições que definem o custo de uma ETE. Desde estrutura básica como área disponível, tipo de solo e lençol freático. Até muitas outras condições que são específicas para o saneamento, como a vazão do efluente, sua carga, as exigências do órgão (LAI e LAO – Licencia ambiental de instalação e de operação), a disponibilidade da energia e ainda outras decisões importantes como o local onde o efluente tratado será lançado ou onde se depositará ou tratará o lodo formado, por exemplo.

Além de todos os fatos citados acima, a reposta depende também se a ETE incluirá custos adicionais, como por exemplo: a implementação da rede do esgoto, o custo do terreno, a operação e manutenção da ETE, o custo para o destino final do lodo ou até os resíduos que estão sendo separados no processo de tratamento. A pergunta correta seria então: Quanto custa o sistema de saneamento?

Existe um programa da Agência Nacional de Água (ANA) de compra de esgoto pelo governo brasileiro para incentivar a construção de ETE e constam em suas diretrizes orientações sobre custos mínimos para diferentes formas de tratamento.

A tabela acima também pode servir como base entre as relações dos custos, para os sistemas de diferentes eficiências (pelos indicadores) e as ETE de diferentes tamanhos (valores per capita). No entanto, estes valores são muito mais baixos que os valores aplicados atualmente no mercado.

Uma publicação atual de conteúdo bastante relevante relacionada aos custos é dos pesquisadores Reami & Coraucci (2011), que comparam 45 ETE de diferentes tecnologias da SABESP. Usamos desta publicação os dados de 11 ETEs abaixo de 50.000 hab e com equipamento técnico (ou seja, sem lagoas). Para facilitar a comparação relacionamos no diagrama abaixo o custo e o equivalente de habitante (em vez de vazão).

As ETE da Rotária do Brasil se enquadram bem neste gráfico. E como mencionado anteriormente, nota-se que comparado à tabela da ANA os custos específicos para as ETE de menor porte, mostrados neste gráfico, são significativamente mais altos em um cenário real.

Então, o tratamento do esgoto com qualidade é caro?

Isso é outra pergunta comum de muitos clientes, mas na verdade, deve ser feita uma outra pergunta: Quanto vale o tratamento do esgoto?

Para nos aproximar de uma reposta vamos comparar a seguinte situação: nos supermercados um litro (1 L) de água mineral custa aproximadamente R$ 1,35 ou seja, muitos brasileiros pagam em 1 m³ (1.000 L) em torno de R$ 1.350 apenas considerando a água para beber. Já na Alemanha, paga-se entre R$ 8 a R$ 12 para 1 m³ (1.000 L) de água de torneira que se pode beber sem risco e sem perceber a diferença para uma água mineral. Além disso, os alemães pagam na sua conta de água entre R$ 15 a R$ 25 por m³ (1.000L) para o tratamento do esgoto, muito mais que a nossa realidade, mas ainda assim, não chega perto do custo da água mineral.

Porque então, muitas vezes não é viável, aqui no Brasil, tomar água da torneira?

Um dos pontos mais importantes é que nossa água vem de rios que, na maioria das vezes, recebem esgoto não tratado ou esgoto que é apenas parcialmente tratado. Embora existam outros fatores que influenciam na qualidade da água, a falta de tratamento do esgoto é a mais grave: segundo dados do Instituto Trata Brasil, apenas 38% do esgoto produzido no país é tratado e o Brasil ocupa a 112ª posição num ranking de saneamento entre 200 países.

A CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), cobra uma tarifa básica residencial de, R$ 3,97/m³. Ou seja, o equivalente ao que se paga em 3 litros de água mineral tratam 1.000 L de esgoto. Será, que isso é muito? Você pode comparar a outras perguntas como: Qual o valor de conta de telefone? Qual é o custo de manutenção da uma piscina? Ou, será que o valor mensal de serviço de tratamento do esgoto de toda sua família não corresponde ao gasto de um almoço ou jantar para duas pessoas?

Claro, pagamos sem reclamar pela água mineral e muitos outros serviços simplesmente porque queremos o melhor para nossas famílias e nossa saúde. Já a questão do esgoto parece mais abstrata, que o “meio ambiente” que tem que resolver, e ele parece nunca cobrar, nem reclamar. No entanto já estamos pagando um valor bem alto por essa conta: praias com balneabilidade cada vez mais distantes de nossas cidades, rios e córregos fétidos, água mineral cada vez mais cara. E essa, infelizmente, já é a nossa realidade.

Porém, vale a reflexão: isso realmente é “o melhor” que queremos para nossas famílias? Isso é a herança que sonhamos deixar para nossos filhos e para as gerações futuras? Cada um de nós usa água e consequentemente produz esgoto. Por isso, a resposta para a pergunta: Quanto vale o serviço de tratamento de esgoto? Cabe a cada um de nós respondermos. Será que o barato não pode sair caro?