Estágio na Rotária do Brasil: conhecer as soluções de saneamento descentralizado

Olá, meu nome é Jéssica Degen, sou graduanda do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, e fui convidada para apresentar minha motivação em buscar fazer estágio na empresa Rotária do Brasil. Em grande parte, minha motivação vem do conhecimento e percepção sobre a realidade atual do saneamento básico no Brasil e no sul do país. Busco soluções em que eu possa contribuir pessoalmente para esta problemática e conhecimento prático para me preparar para o mercado de trabalho.

A que realidade me refiro:

De acordo com o último relatório divulgado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), apenas 42% de todo o esgoto gerado no país possui algum tipo de tratamento. O restante tem como destino final os corpos d’água e o solo, o que ameaça a saúde da população e a preservação do meio ambiente.

Atualmente, o setor tem recebido maior atenção governamental e há uma quantidade significativa de recursos a serem investidos, com a construção de novas Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) e redes coletoras, porém esses investimentos ocorrem principalmente em regiões urbanizadas. Poucos investimentos são realizados nas regiões periféricas e rurais, sendo necessário o tratamento individual de efluentes.

A concepção de sistemas centralizados de tratamento de esgoto em comunidades rurais, ou afastadas de centros urbanos, torna-se inviável devido à baixa densidade populacional, que provocaria altos custos específicos (por habitante atendido) para implantação e manutenção de sistemas complexos de coleta e tratamento. Dessa forma, se faz necessária a implementação de sistemas descentralizados de tratamento. Ou seja, o esgoto deve ser coletado, tratado e descartado, ou reutilizado, próximo ao local da geração.

A realidade do saneamento em regiões rurais e em pequenos municípios é precária: fossas rudimentares, valas a céu aberto e lançamentos de esgoto bruto em corpos d’água retratam a situação da coleta de esgoto nestas regiões. A utilização de tanques sépticos, como alternativa, pode não suprir todas as necessidades ambientais, porém reduz o impacto ambiental dos descartes diretos ao ambiente, o que justifica sua aplicação em regiões descentralizadas.

O que vejo como exigência atual e solução:

A grande exigência da engenharia de criar soluções para estes problemas consiste, no meu entender, na necessidade de escolher e adaptar tecnologias para diversas situações e que sejam viáveis em termos de implementação, operação e manutenção.

Em grandes centros urbanos há a necessidade de optar para reatores cada vez mais compactos, como UASB e Lodo ativado, que foram desenvolvidos para tratar grandes vazões e cargas com menor espaço construído possível, por outro lado, possui exigências complexas de operação.

As áreas rurais possuem espaço suficiente para aplicar sistemas que aproveitam os processos naturais da remoção de matéria orgânica, sem liberar gases críticos (como o UASB), sem consumir energia para a aeração (como o lodo ativado) e ainda com capacidade enorme de absorver cargas de pico sem alterar a sua eficiência.

Dentro destas tecnologias naturais ou ecológicas como, por exemplo, os sistemas de lagoas facultativas, destacam se cada vez mais os sistemas wetlands construídos, tecnologia que é estudada no Grupo de Estudos em Saneamento Descentralizado (GESAD), supervisionado pelo Professor Pablo Heleno Sezerino na UFSC.

O wetland é uma alternativa que apresenta elevados níveis de eficiência, simplicidade operacional e baixo custo de manutenção. Diferente das lagoas de tratamento, o efluente não fica exposto na superfície, fato que poderia provocar a proliferação de insetos, maus odores e produção de algas capazes de afetar, em certas condições, a qualidade do efluente tratado.

O sistema wetland é uma tecnologia valorizada pela Rotária: mais de 50 projetos foram realizados nos últimos 15 anos utilizando essa tecnologia (para mais informações visite a página “produtos wetland“. A Rotária possui vasta experiência em integrar seus wetlands à paisagem local e também em combinar esse sistema com outras tecnologias. Um dos seus wetland, que escolhi como foto para a capa do blog, fica justamente na porta da entrada da empresa, tratando as águas cinzas para seu reuso.

Como pretendo aplicar o meu conhecimento:

O estudo que estou desenvolvendo, em paralelo com o estágio na empresa Rotária, permite aplicar na prática o conhecimento adquirido na universidade e na empresa. Meu estudo pretende identificar de modo exemplar os problemas no sistema de saneamento de uma propriedade rural, localizada no interior do Rio Grande do Sul, e apresentar soluções econômicas e sustentáveis de saneamento para estes problemas.

A propriedade em estudo compreende um espaço terapêutico de 65 residentes e 15 funcionários, em uma área de 5 hectares. O sistema de tratamento de esgotos atual é composto por um tanque séptico seguido de um filtro de areia que não comporta mais a vazão atual da instituição. Odores desagradáveis e extravasamento de esgoto são problemas rotineiros enfrentados pela comunidade, portanto é necessário o aprimoramento do sistema.

Foto do local de estudo que vai ser desenvolvido para atender as exigências ambientais para tratamento de efluentes

 

Para a realização do meu projeto levei em conta diversos fatores, por exemplo, a aceitação dos proprietários e moradores, que é um fator condicionante para a realização do projeto. As características do sistema wetland facilitam essa aceitação, pois sua implementação tem um baixo impacto ambiental e serve como um elemento paisagístico.

Outro aspecto imprescindível seria a capacidade de absorver picos de vazão e de carga, pois uma vez ao mês a comunidade recebe a visita de aproximadamente 150 familiares, o que consequentemente gera um aumento significativo da vazão no sistema.

A operação e manutenção do sistema é relativamente simples. Dependendo do pré-tratamento, utilizando, por exemplo, tanque séptico ou RAC (Reator Anaeróbio Compartimentado), pode ser necessário remover e tratar a cada 2-3 anos o lodo. A necessidade de abastecimento com energia depende da necessidade de bombas, mas de qualquer maneira o consumo da energia é baixo. O principal cuidado a ser tomado no sistema wetland é com a vegetação (controle de ervas daninhas, replantio, podas) que dependerá das espécies de plantas utilizadas. Além disso, o sistema hidráulico (tubos de distribuição de esgoto e drenos de coleta de esgoto tratado) deve ser controlado e monitorado com frequência para prevenir a colmatação.

Wetland da Rotária construído em uma escola Waldorf em Lima, Peru. A vegetação pode até ser mantida conforme as preferências dos proprietários, mas o que realmente importa e convence é a qualidade do efluente tratado, neste caso é reutilizado para a irrigação das áreas verdes da escola.

 

Neste contexto, o sistema wetland, que vou projetar durante meu estudo, apresenta a solução para esta e muitas situações deste tipo, pois permite uma interação harmoniosa entre a comunidade, a vegetação e o sistema. A presença da vegetação e ausência de odores transformam a percepção da população em relação às estações de tratamento de esgoto e colaboram com uma gestão participativa e formação de uma cultura de educação ambiental.

Levando-se em consideração esses aspectos, o sistema wetland é a melhor alternativa para o tratamento descentralizado do esgoto desta comunidade.

Mais informações sobre o sistema Wetland da empresa Rotaria do Brasil